O Anel Mágico
Há muitos, muitos anos, numa casa muito pequenina, vivia um alfaiate que tinha três filhos.
Os dois filhos mais velhos trabalhavam do nascer ao pôr-do-sol, a ajudar o pai.
O mais novo, Lucas, como era muito inteligente andava na escola.
Lucas tinha como professor o seu padrinho, que era o maior Mestre das artes mágicas daquelas terras e um feiticeiro muito mau.
Os anos foram passando e, um dia, os filhos mais velhos disseram ao pai: – Querido pai, nós gostamos muito de si, mas estamos fartos de trabalhar para ajudar o Lucas a estudar. A partir de agora terá de ganhar o seu sustento usando aquilo que aprendeu.
Lucas concordou e disse:
– Amanhã tornar-me-ei num cão de caça. O pai virá comigo às lebres e terá o dia ganho. Preciso que me arranje um açaimo.
O pai assim fez e colocando-lhe o açaimo, depressa o Lucas se transformou num belo cão de caça.
Saíram para o campo e ao final do dia tinham um saco cheio de lebres.
Foram a casa de um comerciante muito rico para as vender, mas o comerciante ao ver tantas lebres insistiu para comprar o cão. O pai aceitou a oferta e entregou o cão.
Dias mais tarde o comerciante foi à caça com o cão. Este ao ver uma lebre correu atrás dela e ficou preso nuns arbustos.
Vendo que estava sozinho o cão tirou o açaimo e de novo se transformou no Lucas.
O comerciante intrigado com a demora do cão foi procurá-lo.
Encontrou o Lucas e perguntou-lhe:
– Não viste por aqui um cão de caça?
O Lucas respondeu:
– Ver não vi, mas quando passei naqueles arbustos ouvi um ruído. Se calhar era o cão que o senhor procura! Olhe, não se aproxime daquele lugar porque está lá um buraco tão fundo, tão fundo que quem lá cai nunca mais volta.
O comerciante, assustado, voltou para casa lamentando o dinheiro e o cão que tinha perdido.
Lucas voltou para casa e disse ao pai:
– Arranja-me um freio para que eu me transforme num cavalo.
O pai assim fez e, ao colocar-lhe o freio, logo o Lucas se transformou num lindo cavalo.
O pai, contente e vaidoso montou-o e foi passear.
Passou à porta do Mestre das artes mágicas que, olhando para o cavalo percebeu que era o seu afilhado e aluno que ali estava transformado.
Furioso, por ver que o afilhado o ultrapassava em sabedoria, disse ao pai: – Dá-me o teu cavalo que em troca eu dou-te um saco de ouro.
O pai fez logo o negócio e entregou o cavalo ao Mestre.
Ora acontece que o Mestre tinha três filhas muito curiosas e, antes de prender o cavalo na estrebaria disse-lhes:
– Nenhuma de vós pode entrar na estrebaria, enquanto este cavalo lá estiver.
As filhas concordaram, mas assim que o pai se afastou foram a correr vê-lo.
Surpreendidas viram que toda a comida estava intacta. O cavalo não comia!
– Coitadinho – disse a mais velha – vamos-lhe tirar o freio a ver se ele come.
Assim que lhe tiraram o freio o cavalo transformou-se no Lucas que ao vê-las gritou:
– Ai de mim pássaro.
Transformou-se num melro e fugiu pela janela.
Estava o melro a voar sobre o jardim da casa quando o Mestre o viu e gritou:
– Ai de mim águia.
O Mestre, agora transformado em águia, voou em perseguição do melro que quando percebeu que ia ser apanhado gritou:
– Ai de mim anel.
Neste momento o melro voava sobre o mar e ao transformar-se em anel foi cair direitinho na boca de um peixe, que acabava de ser apanhado nas redes de um pescador.
O pescador, quando puxou a rede e viu um peixe tão grande achou por bem ir oferecê-lo ao rei.
Quando chegou ao palácio encontrou a Princesa Arabel e disse-lhe:
– Minha linda e doce Princesa, trago este peixe para a ceia real.
A Princesa aceitou-o e foi dá-lo ao cozinheiro para que o preparasse.
O cozinheiro abriu a barriga do peixe e a Princesa viu o anel a brilhar. Mandou que o lavassem e colocou-o no dedo.
A partir deste dia foi este tornou-se o seu anel preferido.
À noite, quando se ia deitar tirava-o, colocava-o numa caixinha e… o anel transformava-se no Lucas.
Lucas tentava conversar com a Princesa mas esta, aterrorizada, gritava e o rei corria para o seu quarto. Quando lá chegava já o Lucas se tinha transformado numa formiga e se escondera debaixo da cama.
O Rei e a Princesa ficavam sem perceber o que tinha acontecido.
Durante três noites se repetiu isto e na quarta noite o Lucas conseguiu dizer à Princesa:
– Princesa, Princesa, não grites. Eu sou o rapaz do anel mágico e devo informar-te que o Rei, teu pai, está muito doente. A única pessoa que é capaz de o curar é o Mestre das artes mágicas.
Quando o Mestre aqui chegar vai-te pedir como pagamento o anel. Por favor não lhe o dês. Atira-o ao chão.
Tal como o rapaz dissera, o Mestre foi ao palácio, curou o rei e exigiu como pagamento o anel.
A Princesa recusou-se a dar-lhe –o atirando-o ao chão.
Assim que o anel tocou no chão gritou:
– Ai de mim arroz.
Logo se transformou em muitos bagos de arroz.
O Mestre ao ver o arroz espalhado no chão transformou-se em galinha para o poder comer, mas o arroz transformou-se em raposa e comeu a galinha.
Depois disto, a raposa transformou-se no Lucas.
O rei, grato pela cura disse ao Lucas que casasse com a Princesa.
Lucas respondeu que sim, mas com a condição de que o pai e os irmãos viessem morar para o palácio.
O rei concordou e o Lucas e a Princesa Arabel casaram e viveram felizes para sempre.
Ana Mafalda Damião